Opinião | Por trás da máscara do 'Guilty Pleasure' não há espaço para o 'Pleasure'
Ontem, inconscientemente, me bateu uma vontade tremenda de assistir, pela milionésima vez, Rambo VI (2008). Esse anseio inquietou a minha mente fazendo com que eu parasse o que estava fazendo para refletir a respeito desse desejo. No meio das minhas reflexões me lembrei que uma parte da cinefilia que conheço considera esse filme, Rambo VI, um Guilty Pleasure. E então, a partir desse momento, comecei a realizar um exercício mental a respeito da relevância desse termo para a cinefilia, em geral. Chequei a abrir um questionamento no meu instagram para que os meus seguidores se pronunciassem a respeito do que achavam sobre esse termo.
Para minha grata surpresa as respostas que recebi no questionamento tinham um flerte com a minha opinião a respeito do assunto. Guilty Pleasure, na minha opinião é uma máscara que alguns cinéfilos usam quando falta a coragem para assumir para Deus e o mundo que, legitimamente, gostou de um filme. Muitas vezes esses cinéfilos se encontram inseridos em uma bolha social onde se convencionou a nomear determinados filmes como “ruins”, ou pior, convencionou-se a fazer chacota a respeito de determinados filmes. Nesse contexto o cinéfilo que em seu coração gostou desse mesmo filme, que todos fazem chacota, fica acuado e não tem coragem de confrontar com seus argumentos os outros cinéfilos e assumir a sua paixão pelo filme em questão. Pois, uma vez assumida, e retificada, com argumentos, essa paixão o cinéfilo sente que poderá ser excluído da bolha em que está inserido.
Para esse cinéfilo, que ama verdadeiramente o cinema e não cria rótulos para os filmes que assiste, mas sim, deixa a arte tomar conta de seu ser deixo um conselho — saia dessa bolha. Acredite no cinema e em todas as expressões artísticas, sejam elas visuais ou não. Deixe a pelicula adentrar seu coração e sua mente e se permita experienciar verdadeiramente a arte. Ninguém pode dizer oque é bom ou ruim quando se trata de arte. Uma vez que a experiência com a obra é absolutamente individual ninguém pode rotular um filme.
Sendo assim, fica evidente que não acredito, também, na dicotomia, filme bom e filme ruim, que toma conta da cinefilia. Uma vez que, até em filmes que você não teve uma boa experiência é possível absorver e aprender diversas coisas. Acredito na inutilidade da arte, uma vez que sendo inútil a arte não é descartável. Consequentemente defendo que o cinema pode ser utilizado por uma mãe de família que ao final da noite só quer assistir alguma coisa para se entreter, pode ser usado por um professor em sala de aula, pode ser usado por um pesquisador em uma obra acadêmica e pode ser utilizado por um grupo de pessoas que se denominam cinéfilos e que nutrem um amor autentico por essa nobre expressão artística. Os filmes podem ser, e são, companheiros para todos os momentos. Eles, os filmes, não tem preconceitos e estão sempre preparados para entreter, comover, levantar questionamentos, intrigar, emocionar e atingir todas as emoções que nos tornam humanos.
Percebo, em determinados casos, que existem cinéfilos que por um momento se esquecem, ou nunca tenham de verdade entendido, que o cinema é muito mais do que os filmes. O cinema é uma expressão artística. Assim sendo, ele não cabe em esteriótipos uma vez que o poder de alcance dele não está limitado a esfera física. Ele pode, e por vezes consegue, transcender e alcançar lugares dentro das pessoas, que elas, sozinhas, nunca haviam alcançado.
Dito tudo isso, deixo claro minha opinião — discordo absolutamente da utilização da máscara Guilty Pleasure. Aos que utilizam essa máscara digo: Por trás da máscara do 'Guilty Pleasure' não há espaço para o 'Pleasure'. Ou seja, por trás dessa máscara existe um cinéfilo frustrado por não poder dizer a plenos pulmões o quanto uma obra organicamente o envolveu. Se entregue sem pré-conceitos aos filmes. Se entregue com a mente e o coração abertos às expressões artísticas. Deixe a arte contagiar o seu ser. Sinta a magia do cinema. E sim, estou sendo redundante com oque já disse acima.
Eu, sim, me emociono todas as vezes que assisto a um filme da franquia Velozes e Furiosos. Tenho catarse ao assistir qualquer um dos filmes da franquia Rambo. E considero Dark Crimes (2016), filme que tem 0% de aprovação no Rotten Tomatoes, um dos melhores filmes que já assisti — inclusive tenho crítica no site sobre esse filme. Esses são só alguns dos filmes que já vi incluirem em listas de Guilty Pleasures que digo de peito aberto gostar muito. Isso não me torna mais cinéfilo e nem menos cinéfilo. Isso só me torna um ser humano que experimentou sentimentos diversos com diferentes filmes. Que se entregou e se entrega à obra cinematográfica. Que se entrega a experiência artistica.
E voltando ao início – Rambo IV trata-se da elite.
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